terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sem saber

"Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os jovens; desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento, e o seu fruto é doce ao meu paladar." Cantares 2.3


De tanto ouvir histórias de amor, contos e fábulas, canções e poemas, o coração se tece em uma fé imensurável, em uma crença incrustada de que o amor é mágico, é fantástico. Mas eu tenho aprendido que o amor é muito mais do que isso, por ser bem menos do que isso. O amor, em sua simplicidade, nasce humildemente no presépio do coração fértil. O coração que, calejado, surrado e ferido, deixa o campo regado para o crescimento do amor descobre que ele não espera platéia, nem luzes coloridas para nascer. Ele brota e cresce e dura enquanto houver brandura, ternura e simplicidade no viver. As histórias de amor que eu escuto me parecem agora mitos ou conversa de contos de fadas. Os contadores de história fecham os seus livros e trocam de amores. As pessoas, assim como os computadores, os móveis e as informações, se tornaram descartáveis e facilmente substituíveis. Para uns poucos - para o bem de todos -, o amor é mais que isso. O amor é menos do que um show, mais do que um espetáculo romântico recheado de poesia e flores - com começo, meio e fim. O amor é silêncio sofrido, guardado no peito. Nunca soube de árvore falar. Lembro de uma árvore e penso que o amor é como ela. É árvore regada e cuidada no coração. Com bons cuidadores, a árvore cresce e dá muito fruto, dentro de nós, no aperto do nosso jardim não-visitado. Eu amo sem saber como nem quando nem onde. Eu amo sem saber. Eu amo por não encontrar outra maneira. Eu amo porque sou responsável pelo cuidado que me prometi dispor. Eu amo porque se eu não amar, eu seco e desfaleço. A vida faz mais sentido quando se tem árvore no jardim. Eu amo distante, sozinha e silenciosa. Eu amo e tenho descoberto que não preciso tê-lo por perto para amar. Amo sentindo e chorando a saudade. Amo apesar. Amo mesmo em discrepâncias, divergências ou discordâncias. Amo ainda quando o certo é não amar. Amo volutariamente. Amo porque custo a acreditar que eu precise me adequar à dura realidade de que as pessoas passam, e a vida é assim mesmo, e que todas as palavras e promessas e pessoas não devem ser levadas tão a sério, porque não duram, porque em algum momento breve ou não, elas se vão. Eu amo apesar de tudo. Eu amo apesar de... nada. Amo, tão profundamente que se fechas os olhos, eu adormeço.


(Inspirado pelo poema em Patch Adams. Inspirado pela árvore em meu jardim.)

6 comentários:

  1. "A verdade prova que o tempo é o senhor Dos dois destinos, dos dois destinos Já que pra ser homem tem que ter A grandeza de um menino, de um menino No coração de quem faz a guerra Nascerá uma flor amarela Como um girassol Como um girassol Como um girassol amarelo, amarelo"

    (Cidade Negra)



    Abraço carinhoso.

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  2. Espelhado no jardim a verdade que rodeia minha vida...amo e como amo!
    Vai ficar mais fácil?

    abraços e parabéns!

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  3. "o amor é mágico, é fantástico" quem não é assim somos nós

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  4. Concordo! Assino em baixo! O amor é simples e concreto - mesmo em suas magia abstrata

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  5. "Amo porque custo a acreditar que eu precise me adequar à dura realidade de que as pessoas passam, e a vida é assim mesmo, e que todas as palavras e promessas e pessoas não devem ser levadas tão a sério, porque não duram, porque em algum momento breve ou não, elas se vão. Eu amo apesar de tudo. Eu amo apesar de... nada"
    Mesmo depois de tantas decepções ainda assim amamos as pessoas, pois existe o amor de Deus em nós!

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