segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Paciência

Pacote de imaginação

Ela mordia gostosamente o biscoito. (Clube Social - que delícia!). Mordeu e sorriu.
-Que foi, Lavínia? - eu, curiosa pela razão do riso.
Depois de um riso sapeca, respondeu:
-Um carro! Hahá! - disse a pequena, admirando o pedaço de biscoito que lhe restara.
-Ah... -respondi observando o biscoito, tentando achar o carro no pedaço mordido.
Outra mordida e, dessa vez, surpresa:
-Ah! Hehe! Uma escada!!
E mais outra mordida:
-Ah, aquele outro era um caminhão! Agora é que é um carro! - a menina descobria.
Nova mordida, nova descoberta:
-Agora é um rostinho!
E outra:
-O que é agora? - desafiou-me.
-Hum... não sei! O que é?
-Hahá! Olhe aqui! - apontando o canto reto do pedaço de biscoito. -Não sabe? - encorajou-me.
-Não... o que é?
-Um escorrego! Não viu a escada?
Última mordida do biscoito. Acabou. Mesmo?
Que nada... ainda lhe restava um pacote inteiro de imaginação.


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sonhos

Encontrar o baú do arco-íris
Fazer anjo na neve
Saltar de pára-quedas

Dar de cara com o amor
Conhecer um anjo
Andar nas pétalas da flor

Voar na noite estrelada
Entrar num conto de fadas
Namorar um beija-flor

Entrar no castelo Ra-tim-bum
Brincar na terra dos palhaços
Fazer um passe de mágica

Ser criança de novo
Ver minhas bonecas vivas
Ter amigas árvores

Cair de um pé de manga
Nadar e encontrar Ariel
Entrar no castelo da Faber Castel

Piscina de chocolate
Conhecer João e Maria
E entrar na casa de doces

Descobrir quem é Dona Fianga
Das estórias do meu pai
Ser amiga da infância.

Deitar em nuvem de algodão
Roubar estrelas do céu
Ouvir uma celestial canção

Abraçar um urso panda
Ver Jesus na manjedoura
Entrar numa concha e cantarolar

Acordar em outro país
Trocar de nariz
Moedas mágicas no chafariz

Conhecer a vila do Chaves
Entrar num corpo humano
Dar uma volta ao mundo

Andar num elefante
Nadar num golfinho
Ser um passarinho

Voar num unicórnio
Ter meu próprio cavalo
Ver um mundo igualitário

Andar nos raios do Sol
Entrar num guarda-roupa mágico
Tocar piano num grande recital

Conhecer um fauno
Tocar gaita
Andar no trenó de Papai Noel

Ter chaminé numa casinha
Perto das nuvens do céu
Lá em cima das montanhas

Ter um tapete bem fofão
Encontrar meu grande amor
Passar camisas de botão

Abolir a escravidão
Brincar com o pó da Sininho
Acabar com a poluição

Restaurar a Amazônia
Limpar todos os riachos
Morar num país africano

Um poema verdadeiro
Um arco e flecha
Atirar golpe certeiro

Animais que falem comigo
Abolir a distância do mundo
Adotar um menino

Um poema mágico
Um poema que seja real
Uma vida que não seja tão normal.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

De dentro

Do que me curo?
Coração-anseio
Oração-desejo
E do medo.

Cores-laçadas
Pincéis-passados
E dos dias atrás.

O agora-inseguro
O ontem imaturo
O depois e o sei lá.

Exponho-me
Lagri
mas
tenho medos
zas e monstro[s
olidão do oce[ano
que vem
outros tantos
dias de hoj[eu
vivo os tantos
de agora.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Amorelinha

Amorelinha, amorelinha
Primeiro joga uma pedrinha
Pode ser você primeiro
Pode ser também eu
Joga uma pedrinha, uma só
Amorelinha

Salta, lança coragem
Sem medo de errar o passo
Amorelinha é coragem
Para saltar errado
Amorelinha é atitude
De pular mais um quadrado
Amorelinha

Respeitando a linha
Segue adiante
o amor na linha
a linha distante
de salto em salto
seguindo confiante
doce amorelinha

duas, três, quatro
ou quanto mais
o tanto necessário
amorelinha passa saltando
pedrinha em pedrinha
na brincadeirinha
amorelinha minha

nove? e o que vem em seguida?
quem sabe? quem sabe?
onde estará a pedrinha?
se não for, volta pra linha
placar zero a zero
e tudo reinicia
ôoo amorelinha!

e o que me faz saltar de alegria?
frio na barriga
é o lugar da pedrinha
pode ser fora ou dentro
e eu quero mesmo é brincar
de saltar na pedrinha
do amorelinha

Minha pedrinha, hora dessas
Cai no CÉU de alegrias
e o amorelinha
vira o mundo mais real do mundo
no mundo das nuvens
do amor sem linhas
sem medidas e pedrinhas
doce amorelinha.

Doce do andar ao lado

Eu vou no meu passo
Sem cansaço
Lançando flores por onde eu passo
E não canso de mil abraços
Não canso
É meu compasso

Se encontro o outro
outro passo acho
compassado, repassado
distraído, observado
Meio cansado, reprimido
É seu compasso

Se distante ou se disperto
Diz perto estar
Desperto devo eu estar
abarcando novo ritmo
E a melodia entoar
De um novo passo

Passo seguido, pensado
Suado de andar ao lado
Tem de ser medido, esperado
Para lado a lado andar
Novo compasso, nova música
Tem de ser resguardado

E conservar a doçura.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

As duas coisas andam juntas.

Desde que eu me entendo por gente, eu tenho escutado sobre a dificuldade de amar. Você também deve ter ouvido, principalmente se você é cristão, coisas do tipo "Ah... mas esse é o desafio: amar ao próximo como a si mesmo." ou talvez "Você precisa, por mais difícil que seja, amar seus inimigos!".

Quando eu me metia em confusão com meus irmãos, o que eu ouvia, depois da palmada, era sempre algo semelhante a: "Você precisa amar seu irmãozinho...". E depois que a gente entra na escola, a gente é estimulado a amar a professora e tratá-la bem, e a amar os coleguinhas e não revidar na hora da briga, mas perdoar e dizer a professora o que de fato aconteceu na confusão. (Bom, pelo menos foi isso que meus pais ensinaram.).

A medida que fui crescendo, o desafio de amar foi ganhando novas formas: "Eu sei que sua amiga fez isso com você, mas você precisa ainda assim amá-la...". E depois dos meus 18, o desafio era lançado assim: "Você não gosta dele ainda, mas com o tempo, vai aprender a amá-lo.". Ou assim: "Abra seu coração para o amor!"

Mas aí é que está. Eu acho que a maioria das pessoas que me aconselharam foram motivadas pelas melhores intenções ao me dirigirem tais estímulos ao amor mas, por outro lado, penso que, ainda que sem perceber, acabaram por me lançarem um discurso um tanto que... programado, pronto. Será que não poderiam ter notado que eu só sabia amar?

Engraçado... Hoje, olhando para trás, percebo que não fui mesmo ensinada foi a ser amada. Caramba! Para mim, esse é um desafio muuuuuuuuito maior! Eu só fui ensinada a amar! Já me disseram uma vez que eu levo as coisas muito a sério. Vai ver tem disso também. Fui tão estimulada a amar que achei que a vida fosse só isso. Vai ver tem um tanto também de mim nisso tudo. Eu descobri como é bom amar. E não dá vontade de fazer outra coisa além disso.

Mas a vida exige um equilíbrio entre amar e ser amado. Talvez seja por isso que quase sempre, quando se trata de amor, minha história manca. Eu só sei amar. Que coisa... Minhas amigas costumam ter dificuldades em amar. Não sabem demonstrar, não costumam tomar iniciativas, tem receios e, mesmo que sem querer, jogam - ainda que percam no final - o jogo do amor. Eu, sinceramente, nunca entendi como é que elas têm dificuldades com isso! Para mim, sempre foi tão fácil... Eu não meço espaço, nenhum centímetro sequer. Eu saio amando e amando e a balança vai só despencando, despencando...

A questão é que, como bom ser humano que sou, tenho de admitir que eu preciso também ser amada. E as pessoas querem me amar. Mas eu não deixo! Pode? Eu quero amar e pronto! Mas que loucura... Respeitar o espaço do amor do outro é uma arte. É meu desafio. Tenho que comprar uma coleira para o amor que mora em mim. Se não, ele não respeita os outros amores...

Acho que as pessoas, quando forem aconselhar, deveriam observar bem quem lhes pede ajuda. Se é alguém que ama muito, aconselhem que aprenda a ser amado (a). Não deixem mais ninguém passar pela vida sem aprender a ser amado, ora!

Talvez, aprendendo a ser amada, eu descubra que meu amor até agora era uma criança apenas. Quem sabe, se eu aprender a acolher o amor do outro com confiança (porque, confesso, às vezes tenho medo de esse amor não vir...), eu veja o meu amor crescer ainda mais! Talvez o amor daqui de dentro aprenda a viver sem coleira - e sem despencar na balança! Talvez a amar e ser amada seja aquilo que me torne mulher e não mais criança. Talvez a arte de ser amada torne tudo o mais na minha história como um colorido arco-íris e não como uma folha toda borrada de tinta, jogada sem medidas e sem planos - às vezes é a imagem que eu tenho do desenho que faz o amor que mora em mim (ele lança todas as tintas de uma vez e fica uma coisa sem noção de espalhafatosa!).

Ser amada por Deus, pela família, pelas amigas, pelo... bom, por quem quer que seja, é um desafio que se lança com todo vigor para mim! Aceitar que sou aceita por Deus, que Ele me ama independente do que eu faça é um suplício! A graça é tão arrebatadoramente amável que eu fico indignada porque meu amor nunca vai conseguir alcançar nem metade do amor de Deus por mim... E eu, que só sei amar, tenho dificuldades de ser amada por Deus... Ser amada pela família é um desafio porque mal consigo perceber as iniciativas de amor quando meus pais ou irmãos renunciam algo por mim ou me fazem um agrado por amor. Só vejo o que EU faço por eles... Ser amada pelas amigas é deixá-las me fazer favores, surpresinhas ou mesmo aceitar dinheiro emprestado! EU quero emprestar sempre (talvez eu me sinta melhor assim...). Aceitar ser amada pelo "outro" é dar espaço para a saudade e para as iniciativas, deixar que me amem...

É... ao final desse texto, percebi algo muito importante. Deixar que os outros me amem é um sinal de amor por eles. É amá-los e me compadecer de seus espaços e tempos. É dar-lhes liberdade. Quero aprender a amar, deixando que me amem... Como um casal que anda de mãos dadas com os pés na areia da praia... parece que amar e ser amada são duas coisas que andam juntas, assim...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Mimi (Parte 2)

..."LUDIMILA!" - gritou a tia Marta, batendo o pé à porta do quarto escondido, ao ver a pequena arteira no vai-e-vem da cadeira. Tia Marta costuma ser um tanto nervosa por natureza. E ao ver a pequena ali, então, não pôde se conter. Acontece que quando a menina Mimi ouviu o grito estridente da tia, esparramou-se por cima da velha estante e, em poucos instantes, estava escondida debaixo de um mundo de enciclopédias, dicionários e aventuras fantásticas.

Antes que se pusesse aos prantos e que a tia lhe desse a devida 'recompensa' por sua astúcia, a espertinha escondeu rapidamente uma aventura no bolso grande do vestidinho florido que sempre usava. E só então, desatou a chorar:

- Buáa, buáaa! Está doendo, titia, está doendo!

- E o que esperava, dona Ludimila? Que lhe fizesse cócegas tanta travessura? - disse a tia enquanto encontrava o bracinho da pirralha entre os livros empoeirados. - Vamos, vamos! Levanta, danada!

- Ai, titia, não briga comigo, tá dodói! - dizia a pequenina entre soluços e mais soluços de um choro aflito.

- É sua danação que dá nisso! Já pro canto! Vamos, vamos! Não saiará de lá até segunda ordem! - carregava a menina pelos braços, à força, até o canto do último quartinho, onde se encontrava a velha máquina de costura da tia Doca - a doce e velha tia Doca, que só não era mais gentil e inocente por ser apenas uma. Uma velhinha muito simpática, muito amável - não tinha quem não gostasse da tia Doca...

E lá ficou sentada no chão a pequena e atrevida Mimi, esperando a segunda ordem da tia Marta, aos soluços, numa complicada mistura de dor, humilhação, raiva e... sono - claro! O que queriam? Era hora de "jiboiar", e todo mundo sabe que criança de 6 anos gosta de dormir na rede depois do almoço, ora.

Soluço vai, bocejo vem, bocejo vai, soluço vem... e... AHÁ! "O LIVRO!" - lembrou-se a pequenina! E foi quando tirou do bolso florido aquele livreto-aventura! "Não deve de ser tão ruim assim ficar aqui no canto..." - consolou-se a menina. "Pelo menos, tenho uma coisinha pra fazer! Tia Marta vai ver que eu vou ser gente importante, que nem o vô!" E os soluços já tinham diminuído quase por completo quando a pequenina aventureira se percebeu admirando o título do livro. Dá para imaginar o tamanho da ansiedade da pequena por sua primeira empreitada no mundo mágico das palavras?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Mimi (parte 1)

Ela subia afoitamente na cadeira envelhecida do vô Chico, ansiosa por começar sua nova empreitada. A pequena Mimi ouvira uma conversa de gente grande na cozinha e, embora ela não soubesse precisamente a pauta principal da prosa, prestara atenção em algo que a tia Marta falara.

A tia havia dito algo mais ou menos assim: "Nesse mundo, só é gente importante e de valor mesmo quem lê, e quem lê muito." Falavam sobre o pomposo Ernesto Cardoso, o novo banqueiro que chegara por aquelas bandas, exibindo luxo e intelectualidade. Mas a pequena Mimi não precisava saber do que se tratava tanto falatório. Só ecoava na fértil mente a idéia de ler.

Ela achava tão engraçado quando o vô Chico gargalhava lendo sozinho na cadeira velha de balanço! "Então, deve ser por isso - pensou a pequenina - que todo mundo diz sim para o vô. Ele deve de ser gente importante, porque vive lendo no quartinho lá atrás...". Ora, a menina que muito esperta era, pensou que também queria ser gente importante e de valor e resolveu se atrever.

Ah, mas antes de seguir com essa história, deixe-me explicar por que Mimi e não outro nome. Seu nome, na verdade, é Ludimila. E quase todo mundo - com excessão do vô Chico, que sempre a chamou pelo nome - a chamava de Lulu. Até que a pequena completou seus seis anos e embirrou que queria ganhar uma gatinha e colocar o nome dela de Mimi. A gatinha Mimi veio, mas, com pouco tempo, fugiu de casa - pelo menos, foi o que contaram para Mimi. E Mimi - a menina - ficou tão tristinha e com tanta saudade que resolveu chamar a si mesma de Mimi. E ai de quem não a chamasse assim. Só perdoava mesmo o vô Chico - "afinal" - pensou ela - "ele é mesmo gente importante. Vai me chamar como quiser. Mas só ele."

E lá estava a pequena atrevida, num vai-e-vem em cima da cadeira do vô Chico, de ponta de pé, em um esforço suado, catando na estante do último quarto uma aventura... um passeio... palavras mágicas que lhe fariam importante... e mal sabia ela...

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