terça-feira, 3 de maio de 2011

Reticências

         "Estou bem, estou bem...".
       O auxílio da repetição de nada adianta diante das reticências. O que não dizemos, aquilo que guardamos, às vezes fala mais alto do que o que repetimos e repetimos em bom som.Apesar disso, poucos são os que conseguem ouvir o grito desesperado embutido no silêncio.
        Para a maioria das pessoas, é sempre bom o uso das costumeiras repetições. "Estou bem, estou bem!" Elas dificilmente seriam hábeis para decifrar nossas reticências como o são aquelas que nos conhecem bem. Essas, quase sempre, nem chegam ao plural. Às vezes, só temos mesmo um alguém que é capaz de ir mais fundo e enxergar o estado em que realmente estamos. Algumas vezes, não há mesmo ninguém.
          As fraturas, o sangue, as secreções, os gritos de horror, a falta de fôlego e os pesadelos ficam para os que tem coragem de cuidar. Os que apenas perguntam ficam com as cicatrizes. Depois que tudo passar, a gente se fala. Enquanto sangra, a gente se cala.Se não vai cuidar, é melhor também não saber da gravidade da dor. Para vocês, lançamos repetições. Dizemos qualquer coisa que vos pareça confortante. Dizemos com nossas repetições: 'não se preocupem. Vocês não saberiam cuidar.' 
         Para os que conhecem a dor, para os que se aproximam, para os que ouvem das janelas da alma a angústia tão declarada nas falsas repetições do discurso, para estes, sim, só para estes, com apenas um olhar, lançamos aflitas reticências.
         

2 comentários:

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