segunda-feira, 8 de junho de 2009

Humanidade

O teto embaçado do quarto toma espaço lentamente no olhar entreaberto do preguiçoso. É mais um dia que deu pra nascer. Ah, não. O relógio mal me vê, já começa a ladainha. Um texto pra escrever e outro pra traduzir. É hoje à noite. Tem que escolher as fotos e deixar na reveladora. Preparar o programa do Dia dos Namorados, comprar o lanche, telefonar e confirmar presença de todos. Preparar aulas, corrigir provas. Lavar o banheiro e estender a roupa que está na máquina. Preencher diários. Ah, não esquecer: pedir emprestado o livro de Aninha para entregar a Caio. Já tá em cima do dia. Ensaiar com as crianças. Varrer a área. Não esquecer: Preparar a prova de "speaking" da turma do sábado e estudar a lição 6. Ah, não esquecer também: Começar a pensar na oficina do Curso de Férias. Ler a Bíblia.

A imagem da rua embaçada toma espaço lentamente no olhar entreaberto do menino. É mais um dia que deu pra nascer. Ah, não. O relógio nem sequer o vê. As horas não passam. Pode ser hoje à noite, ou amanhã, quem sabe. Tem que escolher qual o melhor lugar. Pedir, correr, matar, morrer. Indeferença. Me enxotaram de novo, mãe. Podia ser esconde-esconde, jogo da velha, pega-pega ou futebol. Mas é viver. Pra quê? Ou até esquecer. É a fome que não me deixa fazer. Ah, não esquecer: Fala pro Zé avisar a minha mãe que eu tentei. Andar, e andar. Pedir, sentar. Olho as sacolas. Que tem aqui? Amanhã tô aqui de novo, dona Maria. É, pode ser. Só se Deus quiser. Varrer a área. Já tá em cima do dia. Talvez, pode ser. Quem garante que não? Você? Pode ser. Tudo pode ser. Não vê? Voltar outra vez. Enfim, uma calçada. É aqui que eu fico. Meu Deus, meu Deus, eu só te peço isso: Que amanhã o dia não nasça. Mas se nascer, meu Deus, que eu não. Mas se for o jeito, meu Deus, faz o dia ser camarada comigo. Que seja tudo diferente. Não esquecer: Sonhar com o dia de amanhã. O dia de aman... zZzZ. Nasceu. Ih... Um chutezinho de leve nas costas... Acorda, menino! É o dia camarada? Ah, é só a dona da calçada.

Que o dia nasce, nasce. Que o dia acaba, é fato. E o que vivemos? Um eu vazio de outro eu, que se conforma com o mundo que se forma na forma de si só. A vida que não segue além de si é morte que dá dó. A morte de viver pra além de si é vida vivida, dividida, repartida, produzida em sintonia com o redor. É o que forma a sinfonia da vida do pó, do homem que não foi criado pra ser só. O mundo é o que vemos em redor. A vida são as cores do lado de lá, de cá, dali, dacolá. Dá uma olhada lá na calçada...

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