Numa ensolarada manhã de sábado, conversavam as duas, competindo acerca da intelectuaridade lendária de suas mentes brilhantes:
- Ora, vamos! A palavra é simples: Non jê ne regrette rien.
- O certo seria “as palavras” neste caso, não? Mas, vá. Prossiga.
- As palavras, as palavras – murmurou Alice, aborrecida com a correção. - Eu me referia à palavra, à vez de falar. Quem já viu?... querer me ensinar...
- Pois vá, criatura. Continue. O que é, afinal, esse tal de Non sei lá de quê?
- Non jê ne regrette rien.
- Sim, diga logo duma vez! Não fala porque não sabe... fale a verdade – disse a Lagarta, soberbamente.
- Claro que sei. Significa “formas que me dão forma”, em latim.
- Hum rum... sei... duvido! Hahaha! Você não sabe latim! Vai lá saber o que é isso! Aliás, isso não é francês?
- Pois que seja! Você também não sabe! Que diferença faz?
- Pois agora você me diz: A palavra é: Famartan. Sabe o que é?
- Pois aposto que você acabou de inventar essa palavra só pra se sobressair.
- Eu não sou você, Alice! Vamos, diga, se é inteligente!
- Só se você me disser qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha...
- É que os dois existem, oras.
- De onde você tirou isso? Nunca se encontrou resposta para isso, oras!
- Na minha cabeça eu tenho uma caixa secreta de achismos. Eu digo o que eu quiser...
- Pois depois não reclama, porque quem fala o que quer... você sabe...
A essa altura, o Chapeleiro Maluco, que a tudo observava em secreto – escondido por trás de um baobá ali perto – entra, subitamente, na conversa:
- Pois que essa conversa parece conversa de loucos! – disse o maluco sorrindo.
- Que susto! Onde você estava? – perguntou Alice atordoada.
- Ouvindo atentamente esses psicodelismos em prosa! Falando nisso, aceita um pouco mais de caju?
- Que dia é hoje? – perguntou a Lagarta entediada, a fim de chamar a atenção para si.
- Hoje é sábado, suponho. – respondeu Alice pensando se era mesmo sábado.
- Sábado! Ah, sim! Hoje é Sábado de Caju! Aceitam um pouco mais de caju? – perguntou o chapeleiro com empolgação.
- Mas eu não comi nenhum! Como posso querer mais? – pergunta Alice, mais uma vez intrigada pelas perguntas estranhas de sempre.
- Oras, menina Alice! Vejo que tens boa memória... Memória de um confidente! Posso te confidenciar uma coisa?
O Chapeleiro dirige-se ansioso por confidenciar algo importante ao ouvido de Alice. E Alice inclina o ouvido com curiosidade ao sussurro secreto...
- Ah, não! Não quero mais caju! Não me pergunte isso de novo! – irritou-se Alice, decepcionada com o “segredo”.
- Ai, ai... está na hora de me recolher. Essa conversa está me dando sono... Boa noite... – disse a Lagarta enquanto se escorregava pela folha da roseira.
- Pois eu também já vou! – vira-se Alice com ímpeto e uma pontinha de irritação.
- Ah, não vá ainda, pequena menina! Não se fazem mais meninas como antigamente...
- Por quê? Não acha que sou uma boa menina?
- Ah sim... mas deverias ter estudado sobre a menina Macabéa. Era uma boa moça e não era resmungona como você!
- Argh!
- Pois bem, menina... acho que você é louca. Louca como Macabéa – mas não é boa como ela. Maluca como o Quixote de La Mancha. A partir de hoje, vou coroar-te: Macabéa de La Mancha! Por aqui, vossa Alteza... - fez o Chapeleiro um gesto de honra, conduzindo a menina para uma caminhada.
- Alteza...? Você acha mesmo, é? - perguntou Alice, sentindo-se privilegiada.
- Oh sim, Majestade... deixe-me explicar...
E Alice seguiu caminhando ao lado do maluco chapeleiro por horas. E enquanto o ouvia falar das histórias de Macabéa, do La Mancha e de outras maluquices, ria-se dentro de si, pensando, ao mesmo tempo, no quanto tudo era muito estranho e muito gostoso por ali.
[Com carinho, a todos que me enviaram poemas - flores - no aniversário do Flores e Flechas.]
Olá queridona!
ResponderExcluirPassando para te parabenizar pelo niver do blog, e dizer que esse texto é algo que eu admiro muito em você, que é a sua inteligência narrativa! Meu olho vai delizando nas frases com prazer. Eu, apesar de não dominar regras gramaticais, tenho uma relação quase que intuitiva com elas. E sei claramente dizer quando um texto está bom ou não.
E, baseado no prazer dos meus olhos, lhe digo que seu texto está primoroso! Parabéns! Sou fã do seu blog, e seu fã também como pessoa incrível que vc é!
Xeiro!
Obrigada, Bonito! Tbm sou sua fã de carteirinha! Saudade de conversar com você, queridão! ^^
ResponderExcluirQue bom que gostou do texto! Fico acanhada com seus elogios -- agradeço de coração!
Um beijo carinhoso nesse cabeção que eu amo.
Cheiro!
Mima,
ResponderExcluirAdorei a homenagem. "A palavra é..." hehehe. Muito delicado da sua parte. Tua sensibilidade é inspiradora.
bjs
"Non jê ne regrette rien." - Significados? - signicações nossas.
ResponderExcluirQue lindo passeio com alice, entre baobás,o lúdico da existência, e tantos bons poetas! - simplesmente de uma criatividade tão doce, Mima!
Adorei!
Jaci! Que bom que gostou, moça! Eu amo a estória maluca de Alice, sabe... aí, eu tinha pensado em fazer um texto com o nome dos blogs do pessoal que doou pro níver do blog, mas não sabia o que fazer... que doideira juntar tudo, né? Aí eu fui escrevendo e o mundo de Alice foi aparecendo... e aí, deu no que deu!
ResponderExcluirHaha! Fico feliz que tenha lido e gostado!!
Beijão,
Mima.
Não acho que meu blog poderia fazer parte de um País das Maravilhas, mas o teu e os que tu citou fazem jus, Mima. ^^
ResponderExcluirAdorei a fábula, menina. Sempre quis ler o livro e ver o filme. Mas ainda não tive chance. :)
Me abaixo e te dou um beijo na testa. hahaha *-* :*
Sempre brilhante, queria ter esse talento! Ou outro parecido. Beijo do thio.
ResponderExcluirMima...
ResponderExcluiradorei a surpresa! Muito bom fazer parte deste teu mundo de maravilhas!
Obrigada! Beijos enormes!
Que massa, Mima! Grato por aparecer aqui!
ResponderExcluirMimaaa!!
ResponderExcluirEu adoro a ALICE! Fantástico, literalmente, o texto.
Maravilhosa surpresa.
Você, como sempre, nos presenteando com suas lindas flores!
Obrigada!!
Abraço carinhoso!