#Eu sempre gostei de escrever, mas a conversa é outra quando se trata de ler. Não, não é isso. Eu gosto de ler, sim. Mas eu sou meio desfocada, um tanto desconcentrada, e isso me fazia desanimar quando começava a ler um livro. Dependendo do grau de dificuldade, eram entre duas e vinte repetições do mesmo parágrafo. Aí você pode imaginar quanto tempo eu levava para ler um livro de 200 páginas. =/ Já faz tempo que eu percebi essa dificuldade. Mas, como eu já disse em algum desses posts anteriores, este ano está sendo um ano de muitas mudanças.
#Eu resolvi ler. Parei de procrastinar. Eu sei que vai levar um tempo para que eu ganhe prática e eu passe a ler rápido como muitos de vocês, leitores. - Aliás, pensar que todo mundo lia normalmente e eu lia beeeeem devagar era também uma forte razão para eu não ler. Eu tinha (tenho) vergonha de dizer quanto tempo passava lendo um livrinho... Mas, resolvi encarar o problema. Aos pouquinhos, vou chegando lá.
#Então, arrumei minha bagagem de vontade e esperança - Sim, eu quero ser uma leitora! - e fui à biblioteca do Sesc. Procurei, procurei e... dentre as muitas obras que eu tive vontade de devorar todas de uma vez - como quem vê bolinhos de chocolate, quindins, pudins, tortas de morango e outras delícias de vitrine de padaria (a gente nunca sabe o que preferiria comer numa hora dessas! ai!) - escolhi começar por algo que me fosse familiar, algo que eu já gostasse, que me fosse uma leitura leve e prazerosa. É claro que eu escolhi um brigadeirinho livro de poesia. Da fileira de livros poéticos, ainda fiquei meio em dúvida. (Já repararam que, mesmo sabendo que a gente vai pegar só um brigadeiro, a gente ainda fica em dúvida sobre qual deles a gente vai escolher?) Para afunilar a escolha, resolvi escolher o poeta com o qual eu me identicasse mais. (Mas como saber, se não li nenhum?) Foi aí que eu lembrei que meu tio, Ronaldo, uma vez me falou que acha o meu modo de escrever um tanto parecido com Meireles. Eu pensei: "bom, Meireles foi mulher, ela deve ter sentido muitas coisas que eu também sinto. E se meu tio falou, seria bom saber o porquê."
#Decidida a autora, Cecília Meireles, passeei entre os livros e peguei o que eu achei mais bonito esteticamente. =) São, na verdade, dois livros em um. Viagem e Vaga Música. Concluí Viagem, mas ainda estou nas primeiras páginas de Vaga Música. E, é claro, não gostaria de viajar sozinha. Viajo com a Cecília e também convido você, leitor (a), a sentar do meu lado e desfrutar de um pouco de tudo o que tenho visto pela janela desse trem chamado leitura.
Vem comigo!
Um pouco da autora: Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 07 de Novembro de 1901 no Rio de Janeiro e faleceu em 09 de Novembro de 1964. Cecília foi criada por sua avó, Dona Jacinta. A mãe de Cecília faleceu quando ela tinha apenas três anos de idade e o pai dela faleceu antes mesmo do nascimento dela.
Quando Cecília tinha nove anos, começou a escrever poesia. Em 1919, com 18 anos, publicou seu primeiro livro de poesia, entitulado Espectro.
Os livros Viagem e Vaga Música foram escritos apenas em 1939 e 1942, respectivamente. Viagem concedeu a Cecília o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, pela Academia Brasileira de Letras. Sua poesia foi em muito engrandecida após esta premiação.
Cecília casou-se duas vezes e teve três filhas. Além de escritora, ela também foi pintora, professora e jornalista.
Da obra: Viagem
Meus poemas favoritos desta obra
Epigrama nº 5
Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar - límpido e exato.
E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do ato.
Diálogo
Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro
continuando através dos séculos impossíveis.
Agora compreendo o sentido e a ressonância
que também trazes de tão longe em tua voz.
Nossas perguntas e respostas se reconhecem
como os olhos dentro dos espelhos. Olhos que choraram.
Conversamos dos dois extremos da noite,
como de praias opostas. Mas com uma voz que não se importa...
E um mar de estrelas se balança entre o meu pensamento e o teu.
Mas um mar sem viagens.
Epigrama nº 8
Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.
Epigrama nº 9
O vento voa,
a noite toda se atordoa,
a folha cai.
Haverá mesmo algum pensamento
sobre essa noite? sobre esse vento?
sobre essa folha que se vai?
Onda
Quem falou de primavera
sem ter visto o teu sorriso,
falou sem saber o que era.
............................................................................
Pus o meu lábio indeciso
na concha verde e espumosa
modelada ao vento liso:
tinha frescuras de rosa,
aroma de viagem clara
e um som de prata gloriosa.
Mas desfez-se em coisa rara:
pérolas de sal tão finas
- nem a areia as igualara!
Tenho no meu lábio as ruínas
de arquiteturas de espuma
com paredes cristalinas...
Voltei aos campos de bruma,
onde as árvores perdidas não prometem sombra alguma.
As coisas acontecidas,
mesmo longe, ficam perto
para sempre e em muitas vidas:
mas quem falou de deserto
sem nunca ver os meus olhos...
- falou, mas não estava certo.
Epigrama nº 12
A engrenagem trincou o pobre e pequeno inseto,
E a hora certa bateu, grande e exata, em seguida.
Mas o toque daquele alto e imenso relógio
dependia daquela exígua e obscura vida?
Ou percebeu sequer, enquanto o som vibrava,
que ela ficava ali, calada mas partida?
Eu adoro Cecília Meireles! E realmente a tua escrita suave lembra esta poetisa, que aliás sempre foi de lançar flores e o coração à poesia como seu blog se propõe. Ninguém 'aprende' a ler sem fazer leituras! Orgulhosa dessa seu passo que te levará ainda mais longe! Bjão!
ResponderExcluirA cecília é uma fofa! Lembrei do tempo que eu me divertia decorando poemas. Até hoje eu sei "Motivo" - que é o meu favorito- de cor.
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