Pode ser que eu tenha me habituado ao enfadonho ato de chorar. Talvez porque a história que eu vi pegar o último ônibus na rodoviária tenha-me sido tão familiar que eu ainda sofra o luto da doída morte, do ente querido. Todavia, é bem possível que o motivo para tanto seja aquela sensação de que cumpro com a minha obrigação. Eternamente responsável. Já ouvi por aí que chorar é preciso. É verdade. Eu choro até mesmo se rio. [Imagina se -a-mar]. Se bem que chorar não é, nesta ocasião, o verbo. Com franqueza, eu não sei mais no que a saudade se fez. Às vezes, ela veste asas coloridas. Às vezes, ela passa mal e faz drama. Tudo fingimento. E eu confesso que a traiçoeira já fingiu até que morreu. Pobre do homem que acredita nas artimanhas da feiticeira. A tristeza pode ter se transformado em um acessório essencial. Às vezes, ela me mata a sede. Outras, cansa-me num tédio quase mortal. Se eu, contudo, rasgo a pele que me cobre o peito, e, bem diante dos seus olhos, chove aos seus pés os pedaços ensanguentados da verdade de mim, vê que pode ser tudo fingimento meu. No afã de ter você ao lado meu, eu posso fingir que sofro, fingir que amo muito e calçar as máscaras que me convém. Minha pele ferida e o peito exposto - eu indefesa e só. Pode ser que eu finja em tudo e em sempre. Eu finjo até quando finjo fingir, para ver se o meu orgulho volta e me levanta de volta para mim. Mas sejamos francos. A cegueira cor de flor me hipnotizou por tanto tempo assim? Você não foi embora. Você só não esteve aqui. Quem saberia que o delírio se passou por amor e a poesia se mascarou? Eu pensei que eu amei. Mas não se ama alguém que não se viu, nem se percebeu. Fala-me uma vez de verdade, que você nunca existiu. Fala-me que eu acordei de um sonho, que eu retornei do meu desmaio, que estive em sua fantasia e, no fim, quem saiu foi eu. No fim, ninguém venceu. No fim, o sonho de uma noite alegre que parecia vida era só um delírio meu.
domingo, 19 de junho de 2011
Delírio
Pode ser que eu tenha me habituado ao enfadonho ato de chorar. Talvez porque a história que eu vi pegar o último ônibus na rodoviária tenha-me sido tão familiar que eu ainda sofra o luto da doída morte, do ente querido. Todavia, é bem possível que o motivo para tanto seja aquela sensação de que cumpro com a minha obrigação. Eternamente responsável. Já ouvi por aí que chorar é preciso. É verdade. Eu choro até mesmo se rio. [Imagina se -a-mar]. Se bem que chorar não é, nesta ocasião, o verbo. Com franqueza, eu não sei mais no que a saudade se fez. Às vezes, ela veste asas coloridas. Às vezes, ela passa mal e faz drama. Tudo fingimento. E eu confesso que a traiçoeira já fingiu até que morreu. Pobre do homem que acredita nas artimanhas da feiticeira. A tristeza pode ter se transformado em um acessório essencial. Às vezes, ela me mata a sede. Outras, cansa-me num tédio quase mortal. Se eu, contudo, rasgo a pele que me cobre o peito, e, bem diante dos seus olhos, chove aos seus pés os pedaços ensanguentados da verdade de mim, vê que pode ser tudo fingimento meu. No afã de ter você ao lado meu, eu posso fingir que sofro, fingir que amo muito e calçar as máscaras que me convém. Minha pele ferida e o peito exposto - eu indefesa e só. Pode ser que eu finja em tudo e em sempre. Eu finjo até quando finjo fingir, para ver se o meu orgulho volta e me levanta de volta para mim. Mas sejamos francos. A cegueira cor de flor me hipnotizou por tanto tempo assim? Você não foi embora. Você só não esteve aqui. Quem saberia que o delírio se passou por amor e a poesia se mascarou? Eu pensei que eu amei. Mas não se ama alguém que não se viu, nem se percebeu. Fala-me uma vez de verdade, que você nunca existiu. Fala-me que eu acordei de um sonho, que eu retornei do meu desmaio, que estive em sua fantasia e, no fim, quem saiu foi eu. No fim, ninguém venceu. No fim, o sonho de uma noite alegre que parecia vida era só um delírio meu.
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Adorei o blog! Lindo texto! Voltarei sempre aqui! Coisa boa demais!
ResponderExcluirOi Mima!
ResponderExcluirObrigada pela sua visita e comentários. Quero ler seu blog com mais calma.
Mas do que eu vi até agora já gostei.
Que bom poder compartilhar as palavras né?
beijinhos
Tou com saudade de você,minha mima.
ResponderExcluirdia 28 entro de férias e vou por aí te ver...
gostei do texto, apesar de tudo q ele tem
te amo amiga linda
um beijo
Que lindo, que lindoo! *-* Amei! Agora é minha vez de perguntar e, se quiser, pode deixar a pergunta permanecer retórica: você escreve do que sente ou de sagaz? :x
ResponderExcluirRespondendo a tua pergunta, pode saber que quando eu escrever de feliz é por sagacidade. Não sei porque, a felicidade não me inspira tanto como essa tristeza. Dizem que tenho alma de poeta. E, pelo jeito, você também tem e sabe como traduzi-la...
Ameii mesmo esse teu delírio. :*