Cinco, seis, sete fios perigosos por cima dos muros das casas. Uma, duas, três, quatro... exceto sobre os muros da carpintaria do Seu Chico. Ah, e da oficina do Seu Dedé. Viro a esquina. Uma, duas, três, quatro... Melhor contar os muros sem os fios. Um, dois, três... quatro com o muro de Dona Teresinha.
Travesseiro à cabeça, esparramada em meu sofá, bem diante de mim vejo as mazelas do mundo. Um, dois, três canais, e em cada um, um caso a mais. Um homem entra no quintal da casa e leva uma menininha para longe do convívio dos pais. O que ele faz com ela, não se sabe. Tudo o que se sabe é que a menininha brincava na areia em seu mundo fantástico, destruído em pouco tempo por um desconhecido. Uma senhora e suas noras são surpreendidas por um homem armado em sua casa. O esposo da senhora, ao chegar em casa, se depara com o drama e reage em defesa de sua família. Morto com um tiro na cabeça. Um caso após outro e eu desligo a TV.
Os homens procuram um lugar de descanso e não o encontram. Um bairro parece mais tranqüilo do que um outro, mas até lá, ainda que em menor escala, a tranqüilidade é ameaçada. Os homens decidem ficar mais tempo em casa, abrigados e seguros. Um telefone e tudo é entregue a domicílio. Tudo em perfeita ordem. Até que o suposto entregador traz, em vez de pizza, um tiro na cabeça e um companheiro mafioso para saquear, não apenas o dinheiro que pagaria a pizza, como todo o interior da casa.
E então, continuo a pensar nos cinco, seis ou sete fios perigosos em cima dos muros. Os homens não encontraram seu lugar seguro. Como um abismo que chama outro, assim a violência chama outra, que chama outra e mais outra. Se a violência brutal da desigualdade já nos era de moer o coração, a desigualdade, por sua vez, gerou a necessidade e a revolta, que gerou uma montanha de casos violentos, os quais nos fazem encher nossos muros de violência, quero dizer, de cerca elétrica, em defesa. E ninguém sabe ao certo como começou ou como se segue a avalanche.
Preferiria acreditar que não é assim... No entanto, por todos os lugares em que eu ando, vejo os cinco, seis, sete fios perigosos por cima dos muros. Sobre os muros da minha casa, ainda não se vê. Mas não deixa de ser um plano.
Penso que a cerca elétrica é uma amostra grátis da grande cerca humana ao redor do mundo. Um ato de violência que gera um outro, que gera um outro que rompe a fronteira do país e vai circundando o mundo todo, como uma brincadeira de roda de mal gosto, a nível global. Alguém começou com a faísca elétrica, e todos foram afetados, num círculo sem fim. Não se sabe quem começou, e não se pode saber se um dia vai ter fim. E o choque passa por entre as pessoas várias e várias vezes. Eis a humanidade: uma gigantesca cerca elétrica violenta, formada de incontáveis fios perigosos, sobre os muros do planeta, a uma voltagem incalculável. Até onde iremos em crueldade? Alguém vai desligar a corrente? Estamos a ponto de um grande curto-circuito, por nossa própria maldade. 5, 4, 3, 2, ...
Travesseiro à cabeça, esparramada em meu sofá, bem diante de mim vejo as mazelas do mundo. Um, dois, três canais, e em cada um, um caso a mais. Um homem entra no quintal da casa e leva uma menininha para longe do convívio dos pais. O que ele faz com ela, não se sabe. Tudo o que se sabe é que a menininha brincava na areia em seu mundo fantástico, destruído em pouco tempo por um desconhecido. Uma senhora e suas noras são surpreendidas por um homem armado em sua casa. O esposo da senhora, ao chegar em casa, se depara com o drama e reage em defesa de sua família. Morto com um tiro na cabeça. Um caso após outro e eu desligo a TV.
Os homens procuram um lugar de descanso e não o encontram. Um bairro parece mais tranqüilo do que um outro, mas até lá, ainda que em menor escala, a tranqüilidade é ameaçada. Os homens decidem ficar mais tempo em casa, abrigados e seguros. Um telefone e tudo é entregue a domicílio. Tudo em perfeita ordem. Até que o suposto entregador traz, em vez de pizza, um tiro na cabeça e um companheiro mafioso para saquear, não apenas o dinheiro que pagaria a pizza, como todo o interior da casa.
E então, continuo a pensar nos cinco, seis ou sete fios perigosos em cima dos muros. Os homens não encontraram seu lugar seguro. Como um abismo que chama outro, assim a violência chama outra, que chama outra e mais outra. Se a violência brutal da desigualdade já nos era de moer o coração, a desigualdade, por sua vez, gerou a necessidade e a revolta, que gerou uma montanha de casos violentos, os quais nos fazem encher nossos muros de violência, quero dizer, de cerca elétrica, em defesa. E ninguém sabe ao certo como começou ou como se segue a avalanche.
Preferiria acreditar que não é assim... No entanto, por todos os lugares em que eu ando, vejo os cinco, seis, sete fios perigosos por cima dos muros. Sobre os muros da minha casa, ainda não se vê. Mas não deixa de ser um plano.
Penso que a cerca elétrica é uma amostra grátis da grande cerca humana ao redor do mundo. Um ato de violência que gera um outro, que gera um outro que rompe a fronteira do país e vai circundando o mundo todo, como uma brincadeira de roda de mal gosto, a nível global. Alguém começou com a faísca elétrica, e todos foram afetados, num círculo sem fim. Não se sabe quem começou, e não se pode saber se um dia vai ter fim. E o choque passa por entre as pessoas várias e várias vezes. Eis a humanidade: uma gigantesca cerca elétrica violenta, formada de incontáveis fios perigosos, sobre os muros do planeta, a uma voltagem incalculável. Até onde iremos em crueldade? Alguém vai desligar a corrente? Estamos a ponto de um grande curto-circuito, por nossa própria maldade. 5, 4, 3, 2, ...
Muito legal seu blog, e amei esse seu texto, me identifiquei com suas idéias! Abraço
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