Nada como ter amigos. Não amigos, simplesmente. Amigos mesmo. Amigos de verdade.
Outro dia conversávamos sobre a brevidade da vida. Foram longos dias partilhando histórias de amores, dores, temores, rancores. Feridas que sangram nos deixam sempre concentrados nelas. Dias sem paz, e o abraço era mais uma tentativa de acolher-nos mutuamente, e soava como uma esperança de que, de alguma forma, pudéssemos sentir que ainda existe um abrigo, em algum lugar. A dor ainda latejava. E não digo que ainda hoje a ferida não sangre. Mas aquele dia foi diferente. Eu disse que falávamos sobre a brevidade da vida. E, logo, o assunto virou pauta para um turbilhão de boas palavras. Seria uma bússula divina? Olhamo-nos por um novo prisma, ainda que por um segundo. Contemplamos, por um instante, a nossa vida inteira e, naquele momento ímpar de nosso breve existir, a liberdade nos preencheu. Não apenas isso. Não sei se dá para abarcar o que sentimos em linguagem. Tínhamos um norte no meio do escuro da dor. E a vida pareceu plena, por um instante. E uma estranha força fluía de nós, como um pássaro que não faz esforço para voar. E eu pensei, por um segundo, que não posso deixar escapar de meus dedos a chance de viver. Quando falo em viver, falo em mais do que existir dentro das circunstâncias, numa corrida sem reflexão, sem percepção. Falo em encontrar um sentido para essa breve existência, escolhendo respirar fundo para rir melhor, fotografar beija-flores no jardim, olhar nos olhos, ler muito, correr e sentir o vento e até o cansaço, escrever bilhetes anônimos para alegrar o dia de alguém, amar a própria imagem refletida no espelho. Falo de focalizar a intensidade - outrora dispensada na dor - em tudo aquilo que Deus criou pensando em nós. E a poesia viva tomou conta de cada pedacinho da nossa breve vida. Curta vida. Curta. Viva. O instante da vida.